Contágio: porque as coisas pegam
Origem: Contágio: porque as coisas pegam. Jonah Berger. Texto Editores Ltda., Rio
de Janeiro, 2014. Contageous.
A questão abordada nessa resenha interessa muito
às startups. Trata de conceitos e assertivas acerca da aceitação pelo público
de uma determinada oferta de produtos ou serviços. De uma forma mais objetiva,
Eric Ries em seu famoso Lean Startup trata essa questão como uma
formulação da hipótese de crescimento. Afirma Ries que o motor de crescimento é
o mecanismos que as empresas utilizam para alcançar o crescimento sustentável,
após a realização de ciclos de feedback,
e que isso pode se realizar por meio de alguns mecanismos em que clientes
passados impulsionam esse crescimento: o efeito boca-a-boca parece ser o mais relevante nesses tempos de motor de
crescimento viral. Ocorre que Ries não explica
muito esse tão importante efeito.
Na obra de Berger resenhada aqui essa questão foi muito bem
tratada. Argumenta o autor que o poder
do boca-a-boca, on-line ou off-line, requer o entendimento sobre porque as
pessoas divulgam algo e sobre os mecanismos de aceitação de mensagens.
Refere-se a isso como a psicologia do compartilhamento no âmbito de uma ciência
da transmissão social. Indo direto ao ponto, alguns conteúdos tornam-se virais
enquanto outros não são repassados de forma alguma. Jonah apresenta no livro as causas dessa diferença primordial.
Um primeiro equívoco inerente a esse processo é que um bom
mensageiro vende qualquer mensagem. Alguém até trata de nomeá-los rapidamente,
como se procurasse nessas pessoas algo de divino e mágico: líderes de opinião, influencers, curadores. Ao enfatizarmos
tanto a figura do mensageiro negligenciamos um propulsor muito mais óbvio do compartilhamento que a mensagem
propriamente dita. Nesse sentido, ocorre ao autor um questionamento
fundamental: produtos ou idéias já nascem contagiantes ou são trabalhados para
atingirem esse desempenho tão desejado?
Ao longo dos capítulos da obra, Berger lista de forma
impressionante os seis princípios do contágio, descortinando características
que podem ser desenvolvidas, potencializando a difusão infecciosa de uma
oferta, conceituando e exemplificando seu uso. A primeira idéia perturbadora é
a da moeda social. Tudo que falamos
ou apresentamos influencia o modo como as pessoas nos vêem. Se desejamos deixar
uma impressão, precisamos elaborar mensagens que fortaleçam essa imagem
desejada, percebida com o interlocutor como símbolos de status visíveis.
Passada a mensagem, é preciso que criemos gatilhos
ambientais e comportamentais para que as pessoas lembrem-se de nossos produtos
ou idéias. Gatilhos são estímulos
que incitam as pessoas a relacionar idéias. Algo que acontece normalmente com
as pessoas que receberam nossa mensagem inicial precisa estar intrinsecamente
relacionada a essa mensagem. Essa ligação dificilmente seria possível sem o apelo emotivo, o que nos leva ao
terceiro princípio. Conteúdo naturalmente contagiante evoca algum tipo de
emoção. Um cuidado é destacado pelo autor: emoções
podem aumentar ou diminuir o contágio.
Segundo Berger uma quarta característica precisa ser elaborada.
Enfatiza o autor que tornar as coisas mais observáveis,
públicas facilita que sejam imitadas o que aumenta a probabilidade de
ficarem populares, e isso é característica intrínseca da mensagem, não diz
respeito à propaganda. Os produtos precisam se anunciar por si mesmos criando
resíduos comportamentais nas pessoas que os adquiriram. Isso pode levar
posteriormente à recorrência de aquisição, reforçando o motor de crescimento.
Essa última característica pode ser ressaltada pelo valor prático dos produtos, no sentido de poupar tempo, melhorar a
saúdo ou economizar dinheiro, caracterizando nosso quinto princípio.
Por fim, as pessoas não compartilham apenas informação,
elas contam histórias, e as
histórias são ótimos recipientes de produtos ou serviços, verdadeiros cavalos
de Tróia. E se essas histórias forem umbilicalmente ligadas a esses produtos e
serviços, toda vez que alguém contá-la a outra pessoa estará divulgando nossa oferta,
e de um jeito divertido e dissimulado.