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domingo, 22 de maio de 2022

Educação e Tecnologia – O que a Starlink tem a ver com isso?

O empresário sul-africano Elon Musk esteve no Brasil para tratar com o governo federal de questões ligadas à ampliação do serviço de internet por satélite e sua correspondente utilização em educação básica na região amazônica. Foi anunciada então uma parceria com a Starlink, empresa vinculada à SpaceX, que oferece o serviço de internet banda larga via satélite. Em comunicado no Twitter, Elon Musk afirmou que a infraestrutura de satélites a ser instalada será utilizada para oferecer internet a 19 mil escolas em áreas rurais amazônicas.

Como sabemos, a exemplo do que acontece no Brasil inteiro, há deficiências quase intransponíveis na infraestrutura de internet da área rural do país. Na Amazônia, esse fator é mais grave ainda em função da dispersão populacional em um território muito grande, de acesso basicamente fluvial. O governo brasileiro, por meio do programa Norte Conectado, tem realizado iniciativas de melhoria dessa infraestrutura com a implantação de fibra óptica subfluvial, no bojo das contrapartidas do leilão 5G realizado no Brasil. Mas esse processo é demorado.

Do ponto de vista tecnológico a Starlink traz melhorias importantes: fornece internet por meio de uma miríade de pequenos satélites de baixa órbita, que circulam ao redor da terra a uma distância de 550km, em contraposição à tecnologia usual de satélites em órbitas estacionárias a 35 mil km. O resultado disso é a possibilidade de oferecer internet banda larga a 100Mbps, ou seja, 10 vezes mais que o modelo tradicional. Essa diferença é muito relevante quando se considera o tráfego de conteúdo de streams de vídeo e a interatividade dos jogos on-line. Em uma palavra, com essa iniciativa criam-se condições para utilização da tecnologia das plataformas educacionais a distância, e isso é muito importante, senão vejamos.

Para entender o que acontece na Amazônia consideremos os dados do Censo da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), e dados populacionais do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Os números mostram que 72,6% dos jovens entre 15 e 17 anos que vivem na região estão matriculados no Ensino Médio. Essa estatística recebe o nome de “taxa de escolarização bruta”. Embora alta, ela é inferior para a Amazônia em comparação ao restante do país, onde 82,3% dos jovens cursam essa etapa de ensino. Além disso, existe um descolamento entre a idade dos alunos e a etapa de ensino cursada. No caso do Ensino Médio, espera-se que eles tenham entre 15 e 17 anos. Na Amazônia Legal, 31,2% dos estudantes matriculados no Ensino Médio têm idade acima da esperada para o ano em que estão matriculados. Esta taxa é de 28,1% no resto do país. Por fim, a evasão escolar durante o Ensino Médio na região é também superior à média nacional: 10,1% contra 9,2%. 

Uma possível explicação para a evasão alta é a dificuldade de acesso aos estabelecimentos de ensino. Pouco mais de 23% da população da Amazônia vive na zona rural, mas somente 13,5% das vagas do Ensino Médio encontram-se nessas regiões. As plataformas educacionais de ensino a distância podem cumprir um papel crucial, seja pelo acesso generalizado à educação (capilaridade), seja pela qualificação dos conteúdos educacionais necessários à criação de oportunidades e formação da cidadania.

Do ponto de vista do investimento necessário para a criação da infraestrutura de internet, estima-se um valor em torno de R$ 100 milhões. Mas quanto custa à sociedade a baixa escolaridade de nossa população? Estabelece-se aqui o imperativo educacional para o desenvolvimento do Brasil.


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