Conteúdos Associados (Direct)

sábado, 28 de outubro de 2017



A Revolução Blockchain


Origem: A Revolução Blockchain: como a tecnologia por trás dos bitcoins está mudando o dinheiro, negócios e o mundo. Don Tapscott e Alex Tapscott.  Penguin Random House, New York, 2016. Blockchain Revolution: how the technology behind bitcoins is changing money, business and the world. (Tradução do Portal)

Voltamos ao tema sobre tecnologia blockchain, desta feita no âmbito de uma resenha. Devo salientar que por esses dias verifiquei algumas tendências importantes sobre o assunto nesse nosso microcosmo brasileiro: primeiro, que há uma inevitável, quase frenética busca por parte dos bancos de aprenderem sobre o assunto; convites para participação de consórcios estão chegando a todos os bancos brasileiros; segundo, que há um interesse importante por parte de agentes de tecnologia no sentido de divulgarem, de estabelecerem uma massa crítica nacional capaz de catapultar iniciativas e investimentos. Por exemplo, o Gatner Symposium /ITExpo ocorrido em São Paulo recentemente distribuiu a alguns participantes um exemplar do livro hora resenhado. Vamos a ele.

Don Tapscott, o autor do premiadíssimo Wikinomics, e seu filho, o especialista em blockchain Alex Tapscott, nos trazem um livro com muita pesquisa, fácil de ler e brilhantemente fundamentado sobre o futuro da economia moderna. A Revolução Blockchain é um livro didático para líderes empresariais visando à próxima década e além. Nas próprias palavras do autor, vale evidenciar: “Esse livro é sobre algo maior que ativos”; é sobre o poder e o potencial embutidos nessa plataforma tecnológica”. Dan e o filho não exploram muito os detalhes tecnológicos de implementação, parece que abrindo possibilidades para que outros o façam. Mas o objetivo da obra não parece ser esse: versa sobre impactos e oportunidades, e nisso é muito competente.

Blockchain é público e como tal pode ser programado para registrar virtualmente tudo de valor e importância para o ser humano. Registros de nascimento e morte, certidões de casamento, registros de imóveis, protocolos médicos e, surpreendentemente, votos, em um presságio sobre novos tempos de transparência e responsabilização para os líderes políticos. Aliás em relação a esse assunto, há um capítulo inteiro dedicado com a pomposa proposta de reconstrução do governo e da democracia. Fico imaginando modelos alternativos de política e justiça, e engajamento de cidadãos na resolução de problemas mais complexos – quem sabe democracia direta, sem representantes.


E sobre controle ambiental? Pense em um mundo em que as coisas poderiam contratar diretamente a energia de que precisam e somente o necessário, e que a própria natureza sob sua conveniência fornecesse essa energia.

Em relação aos serviços financeiros, os autores elevam o tom: “a indústria de serviços financeiros procura a todo custo criar marcas e privatizar tecnologias do blockchain, referindo-se a elas como tecnologia de registro distribuída, tentando com isso reconciliar o melhor dos bitcoins – segurança, velocidade das transações e custo reduzido, com um sistema inteiramente regulado, fechado, que requer permissão de uso dos bancos e instituições financeiras. ” Agora meu corolário: eles podem e têm muito dinheiro para isso. Não entendo essa abordagem dos bancos como demérito. Estamos falando de um ecossistema complexo de transações financeiras, que necessita de algum tipo de regulação. A propósito, indagam os Tapscott: “que tipo de legislação, se alguma, faz sentido nesse novo cenário”? Só para que pontuemos, na origem e agora mesmo bitcoin é ativo especulativo, que não interessa à maioria de nós. 

Mesmo com uma tendência declinante, o nível de concentração de riqueza em moedas digitais é enorme: os autores observam que em 2013, cerca de 937 pessoas possuíam metade de todos os bitcoins existentes.


Uma apresentação do Don completa nossa compreensão sobre o pensamento dos autores.




domingo, 22 de outubro de 2017


Origem: Oscar Sarquis. Blockchain na Prática (1). Resenha Startup 2017.


Essa série de artigos ajudará empreendedores e gerentes de tecnologia a entenderem o uso de tecnologias blockchain, projetarem os impactos sobre custos de transação, integração e modelos de negócio, bem como avaliarem o estado de prontidão tecnológica atual. De forma geral, tecnologias blockchain oferecem uma arquitetura confiável que permite entidades sem fé pública (não confiáveis), humanas ou não humanas, suportarem transações comerciais e trocas de valor com uma diversidade muito grande de ativos, registrando essas transações de maneira imutável. Essas transações são agrupadas em blocos vinculados entre si, daí a terminologia.

Ocorre que os benefícios antecipados do uso dessa tecnologia vieram também com um grande paradoxo, no sentido de que no mesmo movimento em que gera eficiência operacional e otimização de custos transacionais, contribui para a morte de empresas e setores atualmente bem estabelecidos. Por exemplo, enquanto firmas de serviços financeiros e outras mais que se beneficiam de seu papel de intermediação centralizada percebem possibilidades de melhorias em processos chaves, se defrontam com a ameaça cada vez mais importante de desintermediação total, caracterizada pelas redes de transações entre usuários finais (P2P).

O certo é que o entendimento sobre os impactos da tecnologia em cada negócio específico precisa ser tratado estrategicamente. Não se trata de mudança tática sobre o uso de determinado serviço ou produto tecnológico melhorado. Assim, gestores estratégicos e líderes de tecnologia precisam direcionar experimentações, provas de conceito, sobre seus casos concretos. Na medida em que os resultados dessas iniciativas forem melhor disseminados e discutidos, a tecnologia amadurecerá e adaptações e mudanças drásticas nos modelos de negócio poderão ocorrer sem maiores sustos.

Um exemplo claro desse direcionamento é o consórcio Itaú-Unibanco e Bradesco. Nesse ano foram apresentados no CIAB, feira anual de tecnologia da bancária da FEBRABAN, os resultados de experimentações iniciais conduzidas pelo referido consórcio, a exemplo do cadastro compartilhado de clientes. O modelo de consórcio é importante pois se trata de uma tecnologia de compartilhamento. Os bancos públicos brasileiros, a exemplo do Banco do Brasil e Caixa também têm feito algumas experimentações. Não vi nada parecido com os cartórios.

A lista de aplicações é grande: contratos inteligentes firmados sem intermediação humana, facilidade de relacionamento confiável entre pessoas e coisas, negócios e coisas, e até mesmo coisas e coisas, novos modelos de intermediação comercial que surgem pelas facilidades de identificação e autenticação das transações, por exemplo. O certo é que a tecnologia blockchain endereça oportunidades em todas as indústrias e no governo. Estamos somente na sua primeira geração, relacionada a transações com troca de valores em moedas criptográficas, como os bitcoins.

Em seguida o Resenha Startup abordará possibilidades. Até lá! 


quinta-feira, 19 de outubro de 2017



Origem: O Futuro das Profissões: Como a Tecnologia Transformará o Trabalho de Especialistas Humanos. Richard SusskindDaniel Susskind.  Oxford University Press, Londres, 2015. The Future of Professions: How Technology Will Transform the Work of Human Experts (Tradução do Portal).

Eu já havia me referido anteriormente sobre o impacto tecnológico nos empregos. Noutra ocasião até citei o argumento do economista-chefe do Google, Hal Varian, de que seu avô não reconheceria o que ele faz atualmente como trabalho. Acredito firmemente no pressuposto de que a tecnologia não destrói empregos, mas implode profissões. Procurei então por novas perspectivas e mesmo uma visão mais específica sobre o assunto e encontrei esse excelente trabalho dos Susskind.

O livro trata de profissões, e dos sistemas e pessoas que irão substituí-las nesses tempos de transformação tecnológica exponencial, avaliando mudanças sobre o exercício profissional de médicos, professores, contadores, arquitetos, sacerdotes, consultores e advogados. Nesse último caso é surpreendente que nos Estados Unidos sejam resolvidos três vezes mais conflitos judiciais de usuários do eBay em plataformas jurídicas do que a totalidade das ações judiciais na Suprema Corte americana. Essa tendência se espalha no Brasil, a exemplo das startups jurídicas Finch, JusBrasil, Looplex. A JusBrasil está entre as maiores do mundo em número de processos ativos.

Compartilhar expertise significa disponibilizar conhecimento, experiências e competências profissionais de forma organizada e sistemática, tendo em vista a geração de valor social. Significa distribuir também os ganhos materiais e imateriais do exercício profissional. Esse compartilhamento possui como pressuposto a potencialização da capacidade humana pela tecnologia, reduzindo assim as limitações humanas decorrentes da falta de oportunidade, característica notória de nossas sociedades atuais.

O livro é organizado em três partes principais. Na primeira são exploradas as mudanças nas profissões, considerando inicialmente seus aspectos atuais e os problemas decorrentes dessa configuração, no que os Susskind chamam de "a grande barganha", caracterizada por arranjos sociais e institucionais que garantem os monopólios profissionais da atualidade. Segue-se a isso uma descrição das evidências das mudanças impressionantes sobre as fronteiras profissionais observáveis em um grande número de profissões.

Na segunda parte do livro a partir de uma concepção mais teórica, os autores demonstram que mudanças na forma de armazenar e comunicar informação têm um impacto direto sobre como compartilhar expertise na sociedade, evidenciando esse impacto a partir de conjuntos de desenvolvimentos tecnológicos, dentre eles aqueles relacionados à inteligência artificial no âmbito de plataformas digitais.

Os autores lançam então questões sociais que precisam ser endereçadas em uma era em que máquinas podem desempenhar melhor que seres humanos na maioria das tarefas, inclusive àquelas relacionadas ao trabalho criativo, a exemplo de empregabilidade, do controle institucional sobre a expertise digitalmente distribuída, e a regulamentação sobre as tarefas a serem desempenhadas exclusivamente por humanos.

O Portal voltará ao assunto!


sábado, 14 de outubro de 2017


Origem: Qual o Futuro e Porque Depende de Nós? Tim O’Reilly, 2017. What’s The Future and Why It’s Up to Us (WTF)? (Tradução do Portal)

Resenhar o livro do Tim é complicado em função do papel importante que ele tem no mercado editorial mundial. Tim se autodenomina evangelista de tecnologia, editor de livros, produtor de conferências e investidor. Nessa posição pode auscultar melhor os anseios do mercado e as aspirações tecnológicas de empresas e pessoas. Nada mais conveniente então que discutir sobre inovações, empresas inovadoras e a repercussão das escolhas tecnológicas sobre as sociedades, principalmente as mais desenvolvidas.

Inicia seu trabalho com uma constatação mórbida: “pesquisadores da universidade de Oxford estimam que em vinte anos, em torno de metade de todas as atividades humanas, incluindo aí àquelas não operacionais, serão realizadas por máquinas”. Agora, com as escolhas tecnológicas que estamos fazendo nesse momento, estamos produzindo mudanças massivas no trabalho, nos negócios, na economia, na vida de todas as pessoas em todos os seus aspectos, e complementa: “estas escolhas estão construindo um mundo que queremos no futuro viver?

Inicia sua resposta construindo uma noção particular de inovações denominadas unicórnios. Não mais se tratam de empreendimentos que simplesmente cresceram muito rapidamente do ponto de vista econômico financeiro. Há outras características que melhor as definem nessa nova perspectiva: primeiro, parecem inacreditáveis e mágicas no início; depois, modificam a maneira como o mundo funciona e as pessoas trabalham; por último, resultam em ecossistemas de novos serviços, empregos, modelos de negócios e indústrias. Até atingir as três características, iniciam em uma fase de deslumbramento, até chegarem ao patamar do ordinário, do comum e ubíquo.

A partir dessa noção particular de unicórnio, observa que a inteligência artificial (AI) é o próximo passo da progressão entre o deslumbramento e o ordinário. Observa o autor que enquanto o termo AI sugere uma inteligência autônoma verdadeira, está ainda sujeita ao direcionamento humano. A descrição da natureza dessa direção e de como deve ser exercida é o objetivo fundamental desse livro.

A título de exemplo, comenta sobre a realidade aumentada. Direciona o argumento pela fala do economista-chefe do Google, Hal Varian, de que seu avô não reconheceria o que ele faz como trabalho. Nessa linha, unicórnios destroem profissões, mas não destroem trabalhos. O trabalho desenvolvido pelos médicos de comunidade em lugares distantes e pobres concretiza a ideia. Pessoas com pouca ou nenhuma formação médica podem ser braços para o atendimento de saúde comunitário via assistência médica remota computadorizada. Criam-se empregos, melhora o atendimento de saúde, indústrias prosperam (algumas ganham muito dinheiro), e forma-se o ecossistema desejado.

Então, finaliza que devemos nos manter indagando o que as novas tecnologias permitirão que façamos agora e que não fazíamos no passado (e isso vale para as tecnologias estabelecidas)? Como elas nos ajudarão a construir a sociedade que queremos viver no futuro? Valeu, Tim!


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Origem: Oscar Sarquis. Arquitetura Empresarial e Ecossistemas de Negócio Baseados em Plataformas Digitais (4). Resenha Startup 2017.

Após discutirmos sobre os principais elementos constituintes dos Ecossistemas de Negócios Digitais e apresentarmos os mecanismos chaves de inserção das empresas nesse tipo de organização econômica, chegou o momento de correlacionar essas idéias. Nossa abordagem conduzirá uma avaliação de cada tendência tecnológica individualmente, procurando evidenciar como as empresas podem desenvolver iniciativas relevantes. Iniciaremos com as plataformas digitais.

Plataformas digitais habilitam interações dentro do ecossistema digital. Elas possibilitam a criação de novos modelos de negócio envolvendo os participantes do ecossistema, sejam eles pessoas, organizações ou coisas. Representam a maneira pela qual as empresas irão proporcionar novas experiências aos seus clientes pela rápida adequação de seus modelos de negócio, resultando daí o crescimento exponencial de suas receitas.

Do ponto de vista técnico, plataformas de negócios digitais representam uma base estável para a oferta de serviços de tecnologia. Aí está o ponto crucial. Com uma oferta adequada de serviços tecnológicos na plataforma, consegue-se atrair participantes externos que desempenham funções que contribuem para o aprimoramento do modelo de negócio desenhado. Vejamos de que forma isso pode ser alcançado.



Transações se referem a interações entre clientes que fluem através da plataforma. Toda colaboração entre os participantes da plataforma digital deve ser direcionada para a melhoria da experiência do usuário. Isso se faz pela redução de fricções transacionais identificadas no mundo real. As fricções surgem porque as soluções não são adequadas às diferentes necessidades de segmentos de clientes diferentes, ou porque há demora no atendimento dessas necessidades. No caso de parceiros na plataforma digital, as fricções são resolvidas com tecnologia.


Lembrem-se: fricções transacionais são a maior fonte de insatisfação de clientes e parceiros

Por exemplo, a participação de determinado parceiro de negócios pode ser incentivada mediante a adoção de mecanismos de automação para o fornecimento de recursos computacionais novos pela automação de provisionamento de novos servidores ou áreas de armazenamento. Uma segunda via seria a disponibilização de APIs que o ajudarão a realizar a melhor oferta no menor tempo para os clientes da plataforma.

Mas como tornar clientes, parceiros e fornecedores orientados a transações?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017


Origem: O Motorista em um Carro sem Motorista: como nossas escolhas tecnológicas criarão o futuro. Vivek Wadhwa e Alex Salkever. Berrett-Koehler, São Francisco, 2017. The Driver in the Driverless Car (Tradução do Portal)

De volta à resenha. A escolha do livro foi proposital. Inaugura um novo ciclo de artigos sobre antropologia tecnológica. Há muitos motivos para investigarmos o impacto das tecnologias sobre a vida das pessoas, do ponto de vista individual e social. O mote é sempre o mesmo, versando sobre o descompasso entre o crescimento tecnológico exponencial e a habilidade humana de torná-lo benéfico para toda a sociedade. E a metáfora escolhida pelo autor não poderia ser melhor: o surgimento dos carros autônomos.

Um carro sem motorista pode desafiar muitos conceitos existentes sobre a superioridade humana em relação às máquinas. Houve um tempo em que aprender a dirigir era como um rito de passagem em relação ao poder e a liberdade individual que ensejava. Wadhwa observa que a quantidade de variáveis envolvidas nesse tipo de tarefa ultrapassava de longe a capacidade das máquinas de poder realizá-las.

Para ilustrar essa situação, pense na decisão que um carro autônomo com um passageiro deve tomar em jogar o carro fora da estrada arriscando a vida do passageiro para salvar a vida de crianças em um ônibus escolar. Nesse quesito a evolução foi tamanha que hoje nos indagamos se essa tarefa pode ser humana!

Por outro lado, os autores salientam que a adoção de veículos autônomos em larga escala pode eliminar o trabalho de milhões de motoristas de carros, caminhões, ônibus, e quem sabe, até de aviões e navios. Esses efeitos indesejáveis das tecnologias disruptivas devem ser conhecidos e amplamente discutidos para que possamos decidir se são compensados por seus efeitos positivos.

Por seu caráter ubíquo, dificilmente poderemos eliminar a tecnologia de nossas vidas como o efeito de uma decisão individual. Precisamos de instituições que atuem no sentido de prevenir os efeitos negativos das mesmas, que distribuam seus benefícios e ajudem-nos a entendê-las e incorporá-las em nossas vidas. Os autores apresentam algumas dessas tecnologias, informando sobre seu potencial ao mesmo tempo em que alertam sobre  seus riscos inerentes.

Arrematam que "ao fim, escolheremos um de dois possíveis futuros: o primeiro é o futuro utópico de StarTrek, em que nossos desejos e necessidades serão prontamente atendidos, focando nossas atividades vitais na retenção de conhecimento e na melhoria da humanidade. A outra é a distopia do MadMax, um futuro de lutas e alienação em que a civilização se autodestruirá".


domingo, 8 de outubro de 2017


Origem: Oscar Sarquis. Revolução Científico-Tecnológica e Adaptabilidade Humana (1). Resenha Startup 2017.

O jornal O Globo do dia 08/10/2017 apresentou um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a atual janela de mudanças no mundo contemporâneo. Seu foco é maior sobre questões de inserção brasileira na geopolítica mundial. Numa parte de seu discurso argumenta sobre:

“(…) que entendam que o mundo contemporâneo tem base técnico-científica em crescimento exponencial, e exige, portanto, educação de qualidade (…)”.

Prezados leitores, há muito que discorrer sobre esse extrato simples do discurso do político e sociólogo brasileiro. Primeiramente, quero relembrá-los que há um descolamento gradual e contínuo entre a taxa de mudanças tecnológicas e a capacidade dos seres humanos, individualmente e socialmente, de adaptarem-se a elas. Especialistas falam que a taxa pela qual podemos nos adaptar a essas mudanças está crescendo. Observam que no início do século 20 levávamos de 20 a 30 anos para fazê-lo, enquanto atualmente esse média caiu para um valor entre 10 e 15 anos. Mas isso não é suficientemente bom.

A janela de tempo entre o momento em que alguma inovação se torna ubíqua e o marco em que o mundo seja exposto de forma relevante a ela está entre 5 e 7 anos, e em processo de redução contínua.

Isso é vertiginoso para a maioria das pessoas, porque elas ouvem falar sobre avanços, sobre a maneira como essas tecnologias irão modificar sua forma de ser, de trabalhar, de se divertir, mas não conseguem compreender de que forma isso ocorrerá; não conseguem direcionar seus esforços para diminuir essa tendência, e a angústia gerada por ela. Do ponto de vista social, o impacto é maior ainda. Que políticas os governos podem implementar para alavancar as imensas oportunidades que daí surgem? Uma pergunta retórica ao nosso sociólogo: que tipo de educação é essa?


Um pequeno exemplo dessa dinâmica pode ser visto a partir do impacto local do aparecimento do Uber. A plataforma de compartilhamento de veículos surgiu por volta de 2007. Somente em agosto de 2017 o legislativo local, nos diversos níveis, iniciou o tratamento das questões relacionadas à regulamentação do serviço. Enquanto isso assistimos a um processo de adaptação por vezes traumático e de ruptura social.

terça-feira, 3 de outubro de 2017


Origem: Oscar Sarquis. Arquitetura Empresarial e Ecossistemas de Negócio Baseados em Plataformas Digitais (3). Resenha Startup 2017.

Após discutirmos sobre os principais elementos constituintes dos Ecossistemas de Negócios Digitais, apresentaremos agora os mecanismos chaves de inserção das empresas nesse tipo de organização econômica. Há quatro movimentos que direcionam a participação das empresas nos EN: conectividade crescente, iniciativas provenientes de big data e analytics, a necessidade de colaboração e open innovation, novas formas de trocas de valor, e a multiplicação de alternativas de modelos de negócio baseados em plataformas.

Em relação à conectividade crescente, observamos que o número de conexões entre pessoas, organizações e coisas está crescendo quase exponencialmente. Todas as organizações têm possibilidades quase ilimitadas de integração com redes de consumidores, parceiros e coisas. Há limites importantes no que diz respeito à largura de banda e infraestrutura de armazenamento.

Sobre os potenciais ganhos em relação ao uso intensivo e qualificado de informação via big data e analytics, salientamos que as organizações dispõem de formas alternativas de acessar, processar e atualizar grande quantidade de informação. Analytics trouxe-nos novos insights dentro da complexidade dos padrões atuais, revelando novos padrões, tornando possível a criação e manutenção de ecossistemas complexos de negócios, qualificando as múltiplas interações que se fazem necessárias nesse tipo de abordagem. Vale salientar que essa capacidade transformou as informações organizacionais no seu mais importante ativo.

Outro direcionador importante diz respeito às questões relativas ao padrão de inovação aberta (open innovation). Problemas complexos demandam respostas colaborativas, seja pela criação de novos serviços, seja pela resolução de problemas emergentes, a exemplo da logística de transporte das grandes metrópoles, ou a inclusão social digital. A resolução desses grandes desafios não pode ser realizada a partir da atuação estanque de empresas, seja pela limitação de recursos, seja pelo alcance de tais problemas e serviços. O que nos é requerido é a colaboração entre atores com capacidades complementares que quando combinadas criam novas soluções inovativas.

Crescentemente, moeda tornou-se somente uma forma de muitas possíveis para a troca de valor. Hoje, reputação, informação, serviços, processos e trocas não monetárias são partes valiosas da economia dos ecossistemas digitais. Por exemplo, plataformas multifacetadas necessitam dessa diversidade de tipos de troca de valor. Para modelos de negócio baseados nesse tipo de estrutura, o gratuito não é algo promocional e temporário.

Esses são os direcionadores da participação das empresas em ecossistemas de negócios digitais. Mas como se correlacionam com os componentes tecnológicos discutidos anteriormente? Esse será o assunto do próximo artigo da série.